terça-feira, 13 de outubro de 2009

Quem fala (ou faz) o que quer, ouve (ou recebe) o que não quer...

Carlos Teixeira
Sexto semestre

Desculpem-me começar esse artigo com chavão já tão desgastado pelo tempo. Mas a pendenga envolvendo o Boteco São Bento, localizado na Vila Madalena, em São Paulo, e o blog Resenha em 6 traduz exatamente essa máxima. O Resenha em 6 fez um comentário ácido e com palavras chulas para descrever as falhas de atendimento do dito estabelecimento. E isso resultou em um processo judicial.

Todos nós sabemos que devemos ter limites legais e de educação para fazer referências a qualquer situação. Ao navegar pelo blog Resenha em 6, pode-se perceber que o publicitário Raphael Quatrocci e seus amigos se propõem a fazer suas avaliações nos locais em que visitam e deixá-las registradas no blog. A linguagem escolhida por eles pode não ser a mais “politicamente correta”, mas a democracia e a liberdade de expressão permitem que isso aconteça.

Fazer um julgamento sobre a postura do blog é um tanto complicado, pois depende da formação familiar ou intelectual do leitor. A maioria das pessoas curte uma linguagem debochada e, às vezes, até chula. Já caiu no “uso comum” intercalar cada frase com um palavrão ou citação pejorativa. “Quem se ofender que não leia ou não fique perto de mim”, afirmam os autores de tais textos ou falas.

Por outro lado, o ofendido tem o direito de questionar a forma como isso foi feito. E aí é que a pendenga toma rumos inimagináveis pelas duas partes. Responder ao blogueiro que iria “tomar as devidas providências” contra o blog, que mesmo de forma duvidosa e questionável exerceu um direito que lhe confere, soou mais afrontoso do que a crítica em si. Dessa forma, podemos chegar à conclusão de que os excessos é que resultaram nessa batalha jurídica que abre uma jurisprudência no sentido de monitorar o que os blogueiros divulgam na blogosfera.

Podemos imaginar o seguinte cenário: o blog Resenha em 6 faz a crítica menos ácida, mudando algumas vírgulas. O dono do restaurante, ao invés de ameaçar com “as devidas providências”, responde que talvez o blogueiro não tivesse recebido a atenção que merecesse e o convidasse a voltar ao estabelecimento. Para sugerir mudanças que pudessem melhorar o atendimento. Essa atitude faria com que tudo isso fosse evitado. E mais! O Boteco São Bento faria do limão uma limonada, reconhecendo os eventuais excessos no atendimento e sugerindo que poderia mudar “para melhor atendê-lo”. Afinal, não existe também a máxima “o cliente sempre tem razão”?

Mas acreditar que tudo isso poderia acontecer com essa postura “politicamente correta” é acreditar também que existe Papai Noel e Coelhinho da Páscoa - perdoem-me crianças que estiverem lendo esse artigo, explicarei melhor isso em outro texto numa outra oportunidade.

O fato é que isso não aconteceu e deu o resultado que deu. A conclusão que se tira do episódio é de que nós, blogueiros, podemos escrever o que quisermos, em nossos espaços. Entretanto, assim como no mundo real, estamos sujeitos aos questionamentos e até mesmo interpelações judiciais.

Somos responsáveis pelo que fazemos ou escrevemos. Partindo desse pressuposto, chega-se à conclusão de que o autor da resenha fez bem em cumprir a determinação judicial, em retirar o post do blog. Em primeiro lugar, para ter algum respeito e crédito, deve-se cumprir com a legislação em vigor. A decisão deve ser questionada no mesmo campo judicial e sem desrespeito a Justiça.

Fica a lição para quem gosta de fazer suas críticas por meio desse diário virtual tão popularizado nos dias atuais. Quem fala (ou faz) o que quer, ouve (ou recebe) o que não quer.

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