quinta-feira, 23 de abril de 2009

Uma das análises de Paulo Francis sobre o Brasil

Jean Fronho
Quinto semestre
Nesses últimos dias, vendo na internet um vídeo sobre Paulo Francis, o célebre jornalista e intelectual brasileiro que morreu em 1997, vítima de um ataque cardíaco, lembrei-me de ter lido um importante livro seu, no qual ela faz uma das suas significativas análises, em forma de ensaio, sobre a política brasileira. O nome da coletânea é "O Brasil no mundo". Tratava de uma abordagem, bem como de sugestões para o processo de redemocratização do Brasil após os vinte anos de ditadura.

Depois de passar por um período de extrema violência e censura, o País finalmente via ir embora o poder dos militares. Ainda assim a transformação fora gradual, e o primeiro presidente não militar, Tancredo Neves, foi escolhido por voto indireto. O problema é que Tancredo morreu antes de assumir e então a volta à democracia levou mais um choque.

Entre os livros da coletânea em questão está o do genial Paulo Francis, que procurou fazer uma análise política do autoritarismo no Brasil desde as suas origens. Fazendo uso de uma teoria sociológica, o autor apresentou a relação entre a exercimento do poder das instituições no Brasil sobre o povo, com a formação cultural brasileira, ligada principalmente à Contra-Reforma.

Paulo Francis não foi o único a defender a tese de que muitos dos problemas que a sociedade brasileira enfrenta estariam possivelmente ligados a sua formação cultural, baseada na ética católica. Problemas como corrupção, forte tendência ao autoritarismo e abuso de poder são causados devido à ideia brasileira de que não se deve fiscalizar o governo, já que nenhuma mudança está ao nosso alcance.

A ética da formação católica sempre colocou que entre o homem e Deus deveria haver um intermediário. Até na hora de confessar os seus pecados, o sujeito deveria procurar um padre para intermediar sua relação com o criador. Essa característica acabou por embutir no brasileiro a ideia de que deve haver alguém para governar sua vida e que sempre existe uma instituição superior capaz de decidir por ele.

A Reforma Protestante de Luthero opunha-se fortemente aos conceitos da Igreja Católica e trazendo uma formação que influenciou puritanismo inglês, pregava uma relação direta entre o homem e Deus, na qual o ser humano era capaz de decidir por si independentemente e dar o rumo que quisesse à sua vida. Essa ideia veio ao encontro da lógica capitalista da livre iniciativa privada e acabou se opondo a todo método positivista e burocrático que poderia ser imposto pelo Estado.

Acontece que o Brasil não foi colonizado pela Inglaterra e sim por Portugal, país notoriamente católico. E assim como houve a Reforma Protestante houve também a Contra-Reforma, na qual a Igreja Católica visava fortalecer toda a moral do catolicismo que estava sendo denegrida pelas renovações de Luthero. As “Companhias de Jesus” ganharam o mundo, e o Brasil se viu refém do expansionismo mercantil e ao mesmo tempo religioso dos nossos irmãos lusos.

O humor ácido de Paulo Francis está presente nas ferozes críticas à dependência do povo brasileiro às organizações existentes no Brasil, e no caráter pouco participativo do brasileiro na vida de sua nação. Tudo isso porque, segundo ele, nossa formação cultural foi de cunho fatalista, com a afirmação de que a vida é “sofrida” e não podemos fazer nada para mudá-la. Só nos restaria então rezar e esperar que a Igreja e o Estado tomassem as decisões corretas para nosso destino. Ora, existe cenário mais propício para a propagação de um regime absolutista e corrupto? Afinal de contas, quando ninguém toma conta do que é público, alguém se apropria. Portanto, os políticos sentem-se à vontade.

A obra nos põe frente a frente com todo o conhecimento não só teórico, mas prático de Paulo Francis. O autor nos revela diálogos que teve com personagens importantes do meio político do Brasil, bem como bastidores do Golpe Militar, sendo que este não se limitou aos governantes brasileiros, mas se estendeu também aos Estados Unidos.

Como toda grande análise, o livro retoma todos os antecedentes do Golpe, que já era previsto antes da posse de João Goulart. Paulo Francis ressalta que a eleição de Jânio Quadros fora a única em que houve uma participação eleitoral efetiva e consciente da sociedade brasileira. Com a renúncia de Jânio Quadros, o quadro (sem trocadilho) político para o governo de Goulart era desfavorável, uma vez que há muito a direita brasileira, apoiada à americana, queria se ver livre da ameaça esquerdista e via em Jango um de seus representantes.

Outro ponto interessante é quando Paulo Francis cita uma entrevista do ex-presidente militar Castelo Branco para o jornal O Estado de São Paulo, na qual ela afirma que a princípio o golpe não previa um regime ditatorial. Castelo afirmou que muitos militares pensaram em abandonar o barco quando se viram inseridos em uma ditadura. A ideia central do golpe era, com o apoio dos Estados Unidos, imprimir uma forma de governo forte e centralizadora, que afastasse o perigo dos “comunistas comedores de criancinha.”

Além da análise, o livro ainda traz toda a originalidade e autenticidade do jornalista, que passou por uma mudança ideológica interessante, indo da esquerda para a direita política, sendo aclamado por membros de ambas as partes em épocas diferentes.

Retomar o passado de um país de forma tão ardente para compreender como tudo se deu em baixo do nariz de um povo a cada dia mais distante da noção de cidadania, foi uma missão muito bem desempenhada pelo autor. Muitas vezes tachado como “anti-povo”, Paulo Francis por vezes foi acusado de pecar pelo preconceito. Mas não deixou de alertar sobre um problema quase sempre ignorado pela própria população: a falta de consciência política do povo brasileiro.

2 comentários:

Cristiano Morato disse...

Parabéns texto perfeito.

Ricardo Moreira disse...

O Saudoso jornalista Pulo Fancis deixou um marco no jornalismo brasileiro, principalmente em se tratando de politica, ele conseguia falar com propriedade pois passou por um período que o país enfrentava uma série de revoluções (mudanças) em sua politica.
O estudante de jornalismo Jean Fronho demonstra conhecimento sobre o autor e seus ideais no texto postado.
Parabéns Jean talvez temos outro Paulo Francis nos dias atuais....